Bali
Pedro:
Nada corre como previsto! A viagem ao México foi cancelada por falta de Swell. Vim parar a outro extremo, a outro continente, Africa. Africa do Sul, das praias selvagens e dos tubarões brancos.
Conheci um casal francês, que também aproveitou as férias de verão para uma surf trip mundial. Laurent e Caroline, são assim que se chamam, e é o que mais próximo tenho como amigos neste fim do mundo. Faltas-me cá tu! Lembro-me sempre de ti e do que tínhamos quando vejo casais em plena harmonia e felicidade. Queria ter-te para te partilhar com eles também, para podermos sair juntos e teres companhia na praia, nas horas que estou dentro de água.
O Laurent disse-me que viajam para Bali, dentro de três dias, e decidi acompanhá-los. Fazem-me bem estas jornadas, os imprevistos. É nessas alturas que consigo não estar a pensar em ti.
Bali, ruas loucas e motorizadas como cogumelos a nascer em todo o lado. Um cheiro forte a especiarias no ar quente e húmido. É o nosso primeiro dia e visitámos a feira local, onde é possível vender tudo e comprar tudo, desde bijuterias a alimentos regionais a eletrodomésticos. Uma loucura. Um sussurrar ensurdecedor enche o ar e os ouvidos. Pregões, discussão de preços, conversas de ocasião, e o som, sempre o som de centenas de motorizadas de fundo.
Congelei! No meio de toda a confusão e de rostos idênticos, e tons de pele escuros, vi ao longe uma ocidental. Atravessava a multidão de mão dada com alguém que não vi. Parecias-me tu, ou o meu cérebro pregou-me uma partida má. Já nem sei como és, passou tanto tempo! Mas gelei, senti mil borboletas no estomago, fiquei com a boca a saber a papel de rebuçado e um suor frio cobriu-me por completo.
…e se és tu? Corro? Resgato-te da mão que te prendia, e como nos filmes beijo-te tombada sobre os meus braços, como se não houvesse passado, só existisse o agora, o ali. E se não és? Não sei o que me provocaria mais descontentamento. -Ça vá? Diz-me o Laurent. Nem respondo, estou inebriado, a viajar. Na cabeça revejo em microssegundos todas as probabilidades. Não podes ser tu, não aqui, não agora! Se fosses corria, o coração empurrava-me e saltava-me pela boca. Agarrava-te e fugia contigo para sempre, sem destino, a não seres tu.
Nessa semana voltei várias vezes ao mercado, sempre na esperança de rever a mesma mulher, sempre com medo que fosses tu, que não me reconhecesses, que me ignorasses. Mas queria ver-te, ou pelo menos ter a certeza de que não eras tu. O resto do tempo passei-o dentro de águas cristalinas e ondas selvagens e perfeitas, desapegado de tudo, sem memórias ou futuros, na única altura em que nada me incomoda. Sou só eu e o ali e agora.
Mais um destino que queria partilhar contigo, um paraíso infindável de cores, cheiros e experiencias inesquecíveis. Queria-te aqui, sem ti só consigo meias felicidades. Regresso a Lisboa amanhã, talvez lá te encontre, ou não, nada sei de ti. Mas em Lisboa amo-te sempre mais.
EU